“Ela tinha um respeito imenso com os fãs”
Marta Barroso conversou com exclusividade com o Festanejo
Além de ser uma figura de destaque no cenário musical, Inezita Barroso era uma mulher forte. Atriz, bibliotecária, folclorista, professora e apresentadora, Inezita superou diversos preconceitos para construir uma carreira de sucesso.
Fruto da relação com o advogado cearense, Adolfo Barroso, em 1949, Inezita deu a luz Marta Barroso, filha única do casal. Inezita faleceu aos 90 anos, no dia 8 de março de 2015. Com uma vida inteira ao lado de um dos nomes mais importantes da cultura brasileira, Marta conversou com o Festanejo sobre as lembranças mais celebres ao lado da mãe, que
completaria 95 anos neste 4 de março.
A Inezita é uma grande personalidade brasileira. Em que momento você teve essa percepção sobre a sua mãe?
Eu já era grandinha. Acho que tinha uns 9 pra 10 anos.
Como ela era como mãe?
Era carinhosa, boazinha mas muito brava e exigente.
Teve algum conselho dela pra você que lembra até hoje?
Sim. Não só pra mim mas para minhas filhas também. “Seja sempre honesta é corra atrás do que você quer.” Ela era uma fortaleza.
Você deve tê-la acompanhado em diversos momentos nos shows ou na televisão. Tem alguma lembrança especial desses momentos?
Muitas. A mais marcante era toda a atenção possível que ela dava ao público. Mesmo supercansada, sem dormir e sem comer nada, falava com todos, tirava fotos, dava autógrafos como se tivesse acabado de acordar. Ela tinha um respeito imenso com os fãs.
Ela amava a música caipira de raiz e gostava muito da Bruna Viola, que é da nova geração de cantoras. Tinha mais alguma nova cantora que ela gostava de ouvir?
Parece incrível mas na casa dela não se escutava música. É louco isso né?
Ela via muita TV.
O que não poderia faltar na vitrola da Inezita? Algum cantor ou cantora preferida da música caipira raiz?
Ela gostava de divulgar a música caipira. E gostava das duplas que iam no Viola Minha Viola, programa dela. Aliás, só ia no programa quem ela queria.
A Inezita iniciou sua carreira com outro estilo de música. A partir de quando ela se engajou na música caipira?
Ela sempre gostou. Mas acho que mergulhou fundo mesmo em 1980, com o Viola Minha Viola.
Qual sua melhor recordação de Inezita?
Difícil escolher uma…Mas eu adorava quando ela vinha aqui na minha casa. Coisa muito difícil de acontecer.
Tinha roda de música em casa também?
Depois da minha infância não. Quando eu nasci tinha muita sim. Mas não lembro.
E você, que estilo de música gosta?
Eu gosto de música eletrônica e músicas americanas dos anos 70, 80, 90. E ela sabia disso. Mas uma respeitava o gosto da outra.
Essa influência veio também de seu pai?
Meu pai era um amor. Eu tenho o gosto musical parecido com o dele. Mas nunca ouvi ele falar em música caipira.
Qual a música de sua mãe que mais gosta?
Difícil também. Mas gosto muito das antigas: Ismalia, Temporal, Funeral de um rei Nagô… Têm muitas.
Buscamos alguns depoimentos de artistas sobre a nossa querida Inezita Barroso:
“Inezita Barroso…mulher visionária que com sua voz e paixão pela música, colaborou brilhantemente de forma ativa com a cultura e com a música caipira do nosso Brasil.” Camila Castro (cantora da nova geração sertaneja)
“Eu tenho uma admiração imensa pela Inezita Barroso porque ela, mais do que tudo, é alguém que entrou no mundo da cultura popular brasileira, da música do sertão, mas ela tinha uma formação de ensino superior numa área decisiva.
Ela cursou biblioteconomia na USP portanto era uma pessoa que tinha também um preparo para fazer esse inventário que ela acabou fazendo em relação à música. Por isso eu acho especial”. Mario Sergio Cortella (no programa Altas Horas de 29/02/20)
“A Elis Regina falava uma coisa fantástica – Não é a voz que canta. E isso se vê muito na Inezita. Ela tinha uma voz que soava. Ela tem uma coisa maior do que ela fez pela carreira das pessoas, pela minha carreira e pela carreira de outros autores.
Ela é uma mulher que desenhou, que enxergou uma coisa da cultura musical brasileira que vem lá do povo. Aquele aroma musical que vem da população. Sabe aquilo tem que ter muita delicadeza para mexer”. Renato Teixeira (acervo Itaú Cultural)