Foto: Jennifer Diniz
No Dia da Música e da Viola Caipira, celebrado em 13 de julho, casal de artistas reafirma o poder da tradição na construção da identidade sonora brasileira
Em um cenário musical cada vez mais urbano e comercial, a celebração do Dia da Música e da Viola Caipira, em 13 de julho, instituída pelo Governo Federal por meio da Lei 14.472, é uma oportunidade para refletirmos sobre as raízes da música brasileira. Quantos e quais artistas atualmente representam bem essa vertente?
A dupla AnieRafa, formada por Aniela Rovani e Rafael Cardoso, possui um trabalho que alia sofisticação técnica, vivência no interior e profunda reverência à tradição da cultura popular.
O casal interpreta a alma da música caipira e apresenta uma estética renovada, que vem conquistando espaço em palcos e festivais por todo o país.
A viola caipira, importante instrumento das manifestações musicais do campo, foi trazida ao Brasil pelos portugueses e, ao longo dos séculos, tornou-se símbolo da música do interior.
De Florêncio a Tião Carreiro, de Zé do Rancho a Almir Sater, a viola moldou uma parte fundamental da nossa identidade musical, fazendo parte intrínseca de gêneros como moda de viola, catira, pagode entre outros.
Em tempos de distanciamento cultural e perda de referências musicais, artistas como AnieRafa constroem pontes entre tradição e inovação.
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“A viola é mais do que um instrumento. Ela é um símbolo nacional da música do Brasil profundo, um elo entre gerações. Cantar com ela é como acessar uma sabedoria ancestral que ainda pulsa no coração do Brasil”, destaca Rafa.
Ani complementa: “O casal, viola e violão talvez forme o conjunto instrumental mais representativo da música feita pelo povo dos interiores do Brasil.”
Muito além da música, AnieRafa vivem literalmente o que cantam. Optaram por um estilo de vida no campo, cercados pela natureza e pela simplicidade da roça.
Essa vivência rural vai além da estética: é a base poética e musical de sua obra. “As canções que escolhemos cantar falam sobre paz, reconexão com a própria história, com a casa, com a terra”, explica Ani.
“É uma música contemplativa para quem gosta de observar e sentir. “Se analisarmos calmamente, vamos notar que esse tipo de temática é recorrente no repertório da música caipira mais tradicional. Os episódios naturais, a criação, plantação, a observação da natureza e suas influências em nosso coração. Quando se fala de amor, é um amor poético, respeitoso e positivo. Assim buscamos nosso canto, entoando palavras que queremos atrair para nossas vidas”, completa Rafa.
Com sólida formação acadêmica, Ani é pós-graduada em música popular, pianista, cantora, regente e tem passagem por montagens de ópera na Europa. Já Rafa é instrumentista e doutorando em música pela UNICAMP.
Juntos, conferem à música caipira um tratamento artístico raro no cenário atual, revisitando clássicos de mestres como Lourival dos Santos e Tião Carreiro com arranjos que preservam a essência, mas introduzem nuances e interpretações contemporâneas.
“Não é uma tentativa de ser retrô ou nostálgico. É arte que nasce da essência, da memória afetiva, da identidade cultural. A gente busca a água limpa da fonte”, explica Rafa.
Vozes atuais e necessárias, AnieRafa reafirmam a fala de Zé Mulato e Cassiano: “A viola e o violeiro vão muito bem, obrigado.”
Essa metáfora da água se torna ainda mais potente em seu novo projeto, “Águas Caipiras”, uma série de lançamentos musicais que propõe um mergulho profundo nas raízes do interior, com releituras de canções icônicas como “Chalana” e “As Águas do São Francisco”.
Com os acordes da viola como fio condutor, AnieRafa se preparam para lançar, no próximo dia 16 de julho, a faixa “Rio de Lágrimas”.
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